Minha mente inventa tanta imagem
para dar visibilidade aos sentimentos, torná-los visíveis e dizíveis, que penso
no resultado como loucura. Apenas a arte me absolveria.
Sou uma refugiada que mora na
arte e na escrita. Mas não sou artista. Falta para ser. Já morei na Filosofia e
volto lá todo dia. Na psicologia tenho até minha própria casa, mas ainda falta.
A existência é algo maior. Mas serão essas moradas passaportes ?
Às vezes penso em uma situação
cômica: Eu psicóloga, na situação paciente, em consulta falando de uma eu pequena que está presa
dentro de mim e com um machado abre meu peito de dentro para fora e inspira se
expandindo, e a outra eu sai de mim. E nessa hora já não sei quem se livrou de
quem. Tenho vontade de rir, pois isso é papo de delírio. Na análise, dito: “Por
vezes, me sinto oprimida e apertada na minha forma cristalizada de lidar com
alguns fatos. Desejo e necessito libertar minha criatividade e espontaneidade,
da minha própria opressão”.
Mas a loucura não para por
aí. Tem a imagem do trauma engolido: Um
bolo de arames farpados no estomago que para não machucar mais, dentro, urgia
ser tirado para fora. Desembolado, e eu puxando de fora, e aos prantos,
sentindo a garganta arder pelas histórias farpadas, enquanto eu me perguntava:
Como isso entrou aí? E quando vai parar de sair?
Um dia parou.
Só a arte para me refugiar.
Melhor buscar a via do desfecho cômico que do trágico, embora não me escape da
visão o paradoxal da vida. E que eu pare de engolir arame farpado e de me prender
dentro de mim. E enquanto me defendo do Simão Bacamarte, argumento: “Como se”.
Mariana B. Goulart