terça-feira, 18 de julho de 2017

Forasteira em: Papo de delírio

                      O inconsciente me constrange, ele escapa pela boca, pelos olhos, nos atos.  Um estranho de mim mesma.
                              Minha mente inventa tanta imagem para dar visibilidade aos sentimentos, torná-los visíveis e dizíveis, que penso no resultado como loucura. Apenas a arte me absolveria. 
                            Sou uma refugiada que mora na arte e na escrita. Mas não sou artista. Falta para ser. Já morei na Filosofia e volto lá todo dia. Na psicologia tenho até minha própria casa, mas ainda falta. A existência é algo maior. Mas serão essas moradas passaportes ?
                         Às vezes penso em uma situação cômica: Eu psicóloga, na situação paciente, em consulta falando de uma eu pequena que está presa dentro de mim e com um machado abre meu peito de dentro para fora e inspira se expandindo, e a outra eu sai de mim. E nessa hora já não sei quem se livrou de quem. Tenho vontade de rir, pois isso é papo de delírio. Na análise, dito: “Por vezes, me sinto oprimida e apertada na minha forma cristalizada de lidar com alguns fatos. Desejo e necessito libertar minha criatividade e espontaneidade, da minha própria opressão”.
                       Mas a loucura não para por aí.  Tem a imagem do trauma engolido: Um bolo de arames farpados no estomago que para não machucar mais, dentro, urgia ser tirado para fora. Desembolado, e eu puxando de fora, e aos prantos, sentindo a garganta arder pelas histórias farpadas, enquanto eu me perguntava: Como isso entrou aí? E quando vai parar de sair?
                        Um dia parou.
                  Só a arte para me refugiar. Melhor buscar a via do desfecho cômico que do trágico, embora não me escape da visão o paradoxal da vida. E que eu pare de engolir arame farpado e de me prender dentro de mim. E enquanto me defendo do Simão Bacamarte, argumento: “Como se”.


Mariana B. Goulart