domingo, 4 de junho de 2017

Licença Poética e Uma Noite de Lançamentos de Poesia no Mundo com Assinaturas



Licença


             Vim até o papel encontrar algumas palavras.      
              Por vezes me pergunto: Qual a função da poesia? O que é poesia e o que não é? Qual é o espaço da poesia atualmente? Fui para o mundo buscar algo com isso.
             Penso que trazer poesia e prosar é vital, isso, para min. Mas de que serviria ao mundo minha sobrevivência? Sim, pois a poesia é o revés do resto; é sobre vivência; é o que não retornou como flash à escuridão.
             Na busca por isso, eu fui ao encontro de poetas lançando no mundo suas poesias. Foi na semana passada, ou melhor, retrasada, à noite de lançamentos e autógrafos que se realizou em um bar movimentado do Bom Fim de Porto Alegre, que abre um espaço à cultura. Estavam lá poetas, amigos de poetas, admiradores, leitores e pessoas que estavam nas mesas confraternizando, pela poesia, ou não. E lá, depois de um dia de trabalho cheguei eu, cabe, ou não, informar, voltando um pouco no tempo, que eu estava curiosa em relação ao espaço que a poesia tem na vida social atualmente, mas parecia até obsceno o encontro com algo conceituado como privado, para mim, e lá tão socializado. Por um momento revi minha posição. Entraria como nessa história? Não me encaixava em nenhum papel. Provisoriamente, vesti a leitora, pois era o que mais vestia e permitia minha entrada. E outra questão: Quando que o lírico se tornou obsceno? Quem enlouqueceu? Eu o mundo? Vasto mundo ai, ai, ai,ai Raimundo. E chega de dar volta em torno de si.
             E me vendo de fora, eu estava na porta e entrei no local “obsceno”, como já disse: de um lado os que estavam ali pela poesia, ou não, e do outro lado poetas enfileirados, foi engraçado ver poetas, homens feitos, em classes entregando seus escritos, é que pareciam classes de colégios em um bar, era uma boa mistura. Mas não sei se estou conseguindo dar visibilidade e sonoridade.
             Na parede oposta a da entrada e do balcão estava a mesa com os livros e em seguida os quatro escritores em suas classes, ao som de conversas de bar, um aroma de vinho e cerveja e também de comida de bar. Entre as paredes várias pessoas, algumas nas mesas, outras circulando. Eu estava circulando e fui até os livros depois de encontrar uma colega que há tempo não via. Um bom encontro.
                Ao chegar até a mesa dos livros, primeiro encontrei cores, letras e palavras no sobrevoo do olhar. Havia nuvem no céu e diabo num caos alinhavado, amarelo ouro escrito tesouro e quatro estações com quatro cores a Prêt-à-Porter.
               Portanto, do sobrevoo pensei que dali podia sair bastante poesia. Levaria todos, auxiliaria na minha pesquisa interior sobre o lugar da poesia na atualidade e entender a relevância dela sair, ou não de Diários, da letra bordada à letra digitada. O que aconteceu não foi bem assim, Perguntei a moça que estava ali:
- Tem cartão?
-Não, em dinheiro, ou cheque. Respondeu a moça
             Por um instante, aquela inquietação. Ops, não pensei em tudo não. Normal, por sorte algum dinheiro na bolsa, mas não o suficiente para o todo. Na compra da poesia nem Visa, nem Master, nem Hiper, nem Express, para me iludir que tudo podia. Essa poesia que visa sem saber. Ainda bem que na saída do consultório havia colocado algum dinheiro na bolsa pensando que poderia precisar pegar um táxi.
             Então teria que escolher e encontrar o desejo, pois o dinheiro no bolso, meu real, comprava todos, não, e dependendo do que eu escolhesse voltaria a pé para casa. Enfim, para escolher não bastava ver as capas. Então dei umas folhadas. A escolha me coloca como desejante, não ir, no meu caso, seria sem desejo, comprar todos talvez um apagamento do desejo também.
             Então, escolhi. Isso deveria ser mais simples, mas com certeza já foi mais difícil. Eu estava lá com o que tinha, senti o real, tão real que doía. Escolher tem relação com olhar o real. Será que por isso que as pessoas se esquivam das escolhas?
             As mulheres ainda são educadas para serem escolhidas, já recebem, na educação, a missão de romper paradigmas simplesmente para existir. A desculpem-me as elucubrações, pois ainda penso muito do meu ponto de vista quando escrevo, ainda estou soltando esse ponto. Voltando, e eu estava lá, real, com o dinheiro real e com tudo que eu tenho quando caminho, quando vou e volto, eu mesma.
              E na volta, eu mesma e mais um bocado de poesia. Ah, e não precisei voltar a pé, peguei um ônibus que em três paradas me deixou em casa. Entre os extremos sempre há várias possibilidades, não que não poderíamos sobreviver aos extremos, mas sempre é bom averiguar as possibilidades, as poesias e demais escolhas.
              Não esqueci o que me fez começar a escrever, minhas questões em relação à poesia sua função e lugar nos tempos atuais. Mas apresentei o caminho que quase nunca é linear, no meu caso principalmente. Admiro os mais objetivos.
              E assim se deu o encontro com a poesia, não encontrei resposta alguma, mas algumas observações. Os dias seguiram, um ao outro e eu fui lendo, exposta à poesia, aquele lugar íntimo de cada um. Novamente me perguntei: Por que eu tiraria a poesia do Diário e a colocaria no mundo?
              E digo: Não sei, talvez apenas porque desejo. Isso é uma verdade, porém, mais além dessa verdade, senti com esse encontro que as poesias que eu encontro fora, despertam as poesias dentro, logo pensei que a vida e o mundo merecem mais poesia. E agora eu tenho mais várias questões e algumas afirmações. Poesia é sobre viver... encontrar o desejo é ensejo. E, às questões que tragam novos encontros.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Chispas

A loucura habita em nós e a poesia também. Não sei se é redundância , ou paradoxo, o que me vem, mas sei que nada sei. E que é uma questão de visão, ou não. 

Mariana Bernardes Goulart- hoje